sábado, junho 07, 2008

Afraid so

Ainda me lembro de quando tinha meus treze ou catorze anos e atravessava madrugadas ouvindo a mesma música repetidamente, e pensava que se eu pudesse escrever algo bonito, honesto e verdadeiro, alguém me amasse. Eu também canso de ser piegas e "a joke of a romantic", mas era como eu me sentia. E, surpreendentemente, como me sinto neste instante.
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Ao lembrar desses tempos, é inevitável não lembrar do meu primeiro amor. Deus! Quantos filmes, quantas linhas mal traçadas, quantas músicas, quanta intensidade. Gostaria de poder falar sobre ele, sobre o que ele gostava de fazer além de me extasiar, pequenos gestos, peculiaridades; mas não consigo. Não consigo porque, na verdade, o conheci muito pouco. Eu pensava o conhecer integralmente, mas a verdade é que ele não ficou tempo suficiente na minha vida. Não tenho do que reclamar. Com a mesma intensidade que veio (perseguição, ciúme virtual, declarações desesperadas por MSN), também foi (dias sem comer, dias sem dormir, semanas para eu me adaptar ao vazio).
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Depois dele vieram paixões menores, e ainda assim avassaladoras. Duradouras foram as que duraram pouco mais de um mês. De repente, me acostumei a não sentir nada. Escrevia displicentemente, assim, para ninguém, afim de não me diagnosticar um enorme vazio coberto por uma tênue camada de piadas inteligentes, humor irônico e frases decoradas. Foi aí em que eu descobri a efemeridade das coisas.
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E nesta fila estafante do correio eu permaneço. Nenhuma destas faces desconhecidas parece ter segredos para mim. Por quê, Ó Pai? Por que não sentir nada é tão mais fácil, tão racional, tão auto-sustentável? Por que esse misto de sensações indescritíveis chamado amor soa ridículo, mas ridículo mesmo, quando sai da minha boca? Por que eu não consigo acreditar em mais nada, em ninguém? Por que pentear o cabelo, beber água, sonhar - por Deus, até mesmo sonhar - se tornaram coisas tão banais?
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Uma vez me disseram que depois dos dezoito anos eu iria querer voltar no tempo. Bom, nem precisei chegar lá para me dar conta de que fiz tudo errado. Meu Deus, eu fiz tudo errado. Eu não me reconheço, não me encontro. Só sinto um pouco de paz quando deitada de barriga para cima na calçada, conto estrelas. Fingindo não morrer de medo da imensidão azul-marinho diante dos meus olhos. E peço fervorosamente, murmuro, para que aquela imensidão se torne mar e me engula. É assim que me sinto todo o tempo, fingindo não morrer de medo da banalidade das coisas, da efemeridade dos bons momentos, da invalidade dos velhos tempos.
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Saio correndo do caixa 3 enquanto a apática atendente me substitui: "Próximo!" Corro pelas calçadas, atravesso a rua. Um casal de idosos sorri para mim, eu sorrio um sorriso desesperado. E tenho medo, tanto medo. Então começa a chover e eu agradeço, agradeço rindo descontroladamente. Porque a chuva mascara meus olhos marejados, se mistura às lágrimas que caem, desesperadas, querendo encontrar o chão. Abro um pouco os braços e fecho os olhos, me entrego. A chuva me fragmenta, e como estas mais honestas palavras já escritas, me carregam mundo afora. Mas ainda mais importante: me levam para um lugar desconhecido, me levam para longe de mim. Isso me acalma. E eu sigo em passos lentos, despedindo de mais um pesadelo que me pega de jeito, sem jeito e de peito aberto.

Um comentário:

Unknown disse...

Amar é difícil. Amar dói. Mas, infelizmente, o amor é uma dor necessária.