domingo, fevereiro 10, 2008

Getting Closer

Amor. O que é amor para você? O que pode chegar perto de ser? Amor não é algo que se retribua de imediato, só para ser gentil. Amor, com base em sua vaga experiência, é ansear por saber todos os detalhes que ela, normalmente, não saberia. Conhecer a marca da pasta de dente, do shampoo, do perfume... Questões de Publicidade. Conhecer o cardápio e como ela gosta do suco batido com a casca... Questões de Gastronomia. Conhecer os livros que lê, os filmes que assiste e o caderno onde tudo está datado... Questões de Jornalismo. Conhecer o gosto pelos cantos perpendiculares, pelas salas grandes e vazias, pelas portas abertas... Questões de Arquitetura. Conhecer os museus que visita, a história preferida e bendita... Questões de Museologia.
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Provar do beijo e da luta. Provar das tardes que a faltam. Provar que ela o merece.... Que nunca a esquece, que chegou para ficar. Provar que enquanto ela sobrevivia, você com ela sonhava e, ainda que sem conhecê-la, a esperava chegar.
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Ela cansou de correr. De plantar e nunca colher. Ela quer uma vida modesta, vezenquando uma festa para você não se entediar. Quer tê-lo em casa e assim, um motivo para casa voltar. Ela sempre amou a cidade em que viveu; foi a cidade que dela se esqueceu.
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Se depois de tudo que leu o medo ainda for o melhor companheiro seu, conclua: tê-la conhecido foi um grande erro. She's bad news. Depois siga toda vida com a limitação de quem não sabe se perder para encontrar o que ainda não fora descoberto.
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Na vida dela houveram momentos em que ela poderia ter feito algo mais. Quando o conheceu se deu conta de que não o desejava para ser mais um destes momentos. E você, o que ela é para você? O que pode chegar perto de ser?

É tão estranho. Devemos ter passado um pelo outro milhares de vezes. Ou não. Eu nunca passei por você... Eu teria parado. Eu teria parado, sim. Eu jamais continuaria andando.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Tarô

Caminhava sozinha na madrugada do primeiro dia de 2008 quando pisou em um pedaço sujo de papel, lado inverso de um desses panfletos pregados nos postes da cidade. Panfleto esse insistente, já que não desgrudava da sola de seu pé descalço. Na calçada sentou-se e tomou aquele insignificante pedaço de papel para si - costuma encaixotar momentos. Da bolsa tirou a caneta do ano passado, e tentou escrever sentimentos, imagens.
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"Fogos explodem no manto negro do céu, em uma constelação de estrelas. Enchem minha face pálida e minha alma descolorida de alegria. A multidão pula, dança e canta. O branco impera. Risos escandalosos e palavras cordiais são a trilha sonora que pode ser ouvida daqui, da beira da estrada.
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Ela, aquela mesma de todos os anos novos e velhos, fecha os olhos e beija a palma das mãos com o zêlo e o carinho de quem tem muito amor para dar. Então promete para si mesma: 'Vou cuidar de você. Ninguém levará pedaços tão bonitos de você novamente, no more souvenirs'.
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Nada mais de conflitos internos, de crises existenciais. Nada mais de wasted tears, wasted years. Nada mais desse corpinho de dezesseis com essa antipatia de setenta e três. Nada mais de procura, de espera, de stalking.
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A vida é tão intensa, tão imensa; ora, pare de lamentar. A vida é essa infinita highway. Não é algo que se compre, que se possa barganhar. E finalmente ela percebe: sua procura, por si só, já é o que ela quer encontrar - quando alguém chamar seu nome".
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Guardou a caneta. Ao dobrar o papel notou no canto direito da propaganda de um tarô, letras grandes em tom de lilás: "O destino está à espera!". Sorriu um daqueles sorrisos incrédulos e calçou suas havaianas anatômicas. Nada mais cruzou seu caminho desde então.
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Quanto ao futuro, não façamos reservas.

sábado, fevereiro 02, 2008

Não é amor

Me desnude. Me tire do sério. Bagunce o meu lençol de menina, o meu senso desatina. Me provoque. Decore cada traço meu, é tudo seu. Me divirta. Me ame e admita. Me amanheça, me entardeça, me anoiteça. Me roube a castidade. Não tenho problemas em expor a vaidade enquanto o que eu calar for a verdade. Me ligue. Sinta saudades. Diga que já não vê a hora. Venha sem demora. Me careça. Me enlouqueça. Toque que eu danço, peça que eu canto. Faça do ontem o dia pior. Você não é amor, é melhor.


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"Eu ainda me lembro bem: teus dedos perguntavam para minha blusa, se meu corpo acolheria um delinqüente".