sexta-feira, abril 04, 2008

Confissão

Já reparou em como qualquer adjetivo benévolo - bonito, carinhoso, amável - passa a tomar forma e obter um nome dito pausadamente, assim, no diminutivo quando amamos? Até mesmo os substantivos como amor, boca e sorriso tornam-se tão característicos da pessoa amada que já não existem coincidências - só destino.
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Nesse estágio, nesse pico, o amor sentido é tão substancioso que cresce em desproporção ao amor recebido. É então que o sentimento ultrapassa todas as camadas de pele do corpo, ultrapassa o tecido, sai pela boca, pelos olhos e ouvidos. Não é suor, mas é salgado, talvez amargo, pois estamos fartos dessa doçura dentro de nós, dessa nobreza, dessa paz.
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Eu, no caso, tenho amor preso na garganta. Eu já não canto: declamo. Os agudos desafinados saem suaves. Também escrevo, compulsivamente. Chega amor nos meus pulsos e músculos, e mãos. Já não posso dizer que sou dona desses suspeitos sorrisos despercebidos, dessa desatenção, desses suspiros. Me aprisiona dentro do peito, meu bem, que eu sou culpada, confesso.