domingo, abril 29, 2007

Striptease

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.
.
Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente. Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.
.
Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".
.
Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."
.
Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou". Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".
.
Por fim, a última peça caía, deixando-a nua:"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".
.
E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
.
Por Martha Medeiros.
.
E tudo que eu gostaria de dizer.
Da coragem, só restou a poesia.

sexta-feira, abril 27, 2007

Lovely Friday

São sextas-feiras como esta - cinzentas, chuvosas, mas muito confortáveis - que fazem a semana valer a pena. À noite, como de costume, fui alugar alguns filmes. E após uma longa e deliciosa conversa com o Ricardo (o cara do "oi! tudo bom?"), os meus bolsos esvaziam-se e o meu coração bate acelerado por essa enorme e eterna paixão por cinema. Os filmes dessa sessão você pode conferir no The Script, nos próximos dias.
  • Livros













Sim, essas belezinhas chegaram hoje. Pelo que pude ler até agora, são ma-ra-vi-lho-sos! Recomendo, claro. Para quem quer manter os pés no chão e cabeça nas nuvens.
  • DVD

Ah, eu adorei esse filme. É bastante fiel ao livro. Talvez um pouco longo, mas instigante. Audrey Tautou e Tom Hanks se encaixaram perfeitamente nos personagens, creio eu.
Sinopse: Robert Langdon (Tom Hanks) é um famoso simbologista, que foi convocado a comparecer no Museu do Louvre após o assassinato de um curador. A morte deixou uma série de pistas e símbolos estranhos, os quais Langdon precisa decifrar. Em seu trabalho ele conta com a ajuda de Sophie Neveu (Audrey Tautou), criptógrafa da polí­cia. Porém o que Langdon não esperava era que suas investigações o levassem a uma série de mensagens ocultas nas obras de Leonardo Da Vinci, que indicam a existência de uma sociedade secreta que tem por missão guardar um segredo que já dura mais de 2 mil anos.
  • Cinema












Dentre vários, o meu "D Duplo" é composto por estes dois filmes. O primeiro, Maria Antonieta, faz o gênero alternativo, escrito e dirigido por Sofia Coppola - sim, a filha do diretor de O Poderoso Chefão. Com a participação da graciosíssima Kirsten Dunst (de Homem-Aranha). O segundo, Piratas do Caribe 3, é o tipo de filme hollywoodiano, superprodução e coisa e tal. Mas com a participação de Johnny Depp (de A Fantástica Fábrica de Chocolates), Orlando Bloom (de Senhor dos Anéis) e Keira Knightley (de Rei Arthur). Vale salientar que a estréia será no dia 25 de Maio.

Então alguém com carro, bicicleta ou coragem para me sequestrar da minha vida... Por favor, me leve ao cinema! (risos)


  • Exposição
Ele idealizou o helicóptero e a bicicleta; desenvolveu trabalhos de anatomia e mecânica. Nas horas vagas? Ah, ele pintava.


LEONARDO DA VINCI - A EXIBIÇÃO DE UM GÊNIO

A maior exposição do artista. Com mais de 150 peças: 75 máquinas em Grande Escala, Manuscritos, 40 Desenhos, Arte Renascentista, Documentário e Animação 3D.

A genialidade do inventor, cientista e mestre da pintura italiana Leonardo da Vinci (1452-1519) está sintetizada na amostra de 150 peças. São todas réplicas, já que a maior parte de seus desenhos, estudos anatômicos e os famosos códigos Da Vinci - espécie de manual didático - não sai das instituições onde estão guardados. Entre as atrações está o estudo O Homem Vitruviano, representado numa montagem tridimensional.

Parque do Ibirapuera, portão 3. Segunda a sexta, 9h às 19h; sábado, domingo e feriados, 10h às 20h. Bilheteria R$ 30,00. Até 29 de julho.


***


E a minha adorável sexta-feira acabou em um jantar maravilhoso com a Monalisa. Agora, só falta uma enorme xícara de café ao som de Alanis Morissette.


quinta-feira, abril 26, 2007

O Futuro que vem aí

Quando é pra falar de Brasil eu grito além dos muros. O texto que segue, apesar de um pouco longo nessa estrutura virtual, vem falando de otimismo e realidade. Gosto da maneira como decompõe a tendência negativa – e correta, claro, mas eventual – quando falamos em Brasil. Pois esse é o nosso País! E patriotismo não pode existir apenas ao final de uma gloriosa copa do mundo. Leia, reflita e opine, se desejar.

Enquanto a elite política repetia os erros do passado, o País seguia em frente.
Nesses 500 anos, o Brasil saltou da Idade da Pedra para a Era da Informática. Um brasileiro, o marechal Rondon, ensinou o mundo a respeitar os indígenas. Outro, Mauá, dirigiu bancos e empresas multinacionais antes que alguém falasse disso.
Apesar do que dizem os americanos, foi um brasileiro que deu asas ao homem: Santos Dumont, com seu 14 Bis. E outro, o cientista Carlos Chagas, ensinou países tropicais a combater a doença que ficou conhecida pelo seu nome.
O Cinema Novo, criado no Brasil, mexeu com as cabeças pensantes do mundo.
A seleção brasileira de futebol impôs um estilo de jogo que encantou o mundo, e em outros esportes temos acumulado vitórias e mais vitórias. E Pelé, símbolo do futebol-arte, virou marca mundial de qualidade e criatividade.
A obra do escritor Machado de Assis agora é descoberta na Europa e nos Estados Unidos. E Guimarães Rosa, um dos nossos maiores escritores, depois de sua morte conquistou a admiração do mundo.
Desde os tempos da Bossa Nova, nossa música faz sucesso por todos os cantos do planeta, da América do Sul ao Japão e da Rússia aos Estados Unidos.
Mas foi com o trabalho anônimo de milhões de brasileiros que chegamos até aqui. Criamos universidades, desenvolvemos a pesquisa científica e hoje somos um dos maiores fabricantes mundiais de automóveis e aviões.
Nos tempos coloniais, quando o povo nem tinha voz, o Brasil produziu mais riquezas que os Estados Unidos, apesar de maus governos, da corrupção e dos impostos que sufocavam a produção econômica.
Agora que vivemos numa democracia e o povo fala e decide, o País pode inaugurar um novo século em condições de crescer cada vez mais e resolver de uma vez por todas os problemas que ficaram do passado: pobreza, fome, analfabetismo, corrupção e todas as manchas de autoritarismo e impunidade que ainda existem por aí.
Houve um tempo em que se dizia, na Europa, que nenhuma civilização podia sobreviver nas regiões tropicais, porque o clima quente e as doenças faziam o homem ficar preguiçoso e improdutivo.
Também se disse que a mistura de raças nunca ia dar certo: como é que portugueses, indígenas e africanos, que odiavam o trabalho, iam criar um país?
Fracassaram todas as profecias, feitas até por brasileiros, que condenavam o Brasil ao fracasso. Criamos uma sociedade na qual convivem pessoas de todas as raças, etnias e origens. Nem sempre em paz, como já vimos. Mas um dia a gente chega lá.
Só não podemos ignorar nossa História e as lutas, o sofrimento e o sangue com que foi construída. Não somos e nunca seremos um país perfeito, porque isso não existe. Mas o progresso, a paz e a justiça com que sonhamos só dependem de nós.

(Retirado de “Brasil 500 anos – História do Povo Brasileiro”, escrito por Sebastião Martins e André Carvalho)

domingo, abril 22, 2007

The Next Door Waits

Quando algo além do meu controle acontece, eu só consigo escrever na terceira pessoa. O que é um tanto covarde da minha parte, admito. Mas para quem, como eu, tem essa necessidade de congelar momentos e detalhes... bom, isso funciona. Talvez porque nesses instantes abençoados pelos elementos naturais, eu não seja eu, entende? Nesse instante, não sou aquela que acorda cedo, toma banho, penteia o cabelo, escova os dentes e segue o roteiro. Nesse instante, sou uma das personagens das mil e uma estórias que crio como final alternativo das coisas. E talvez isso seja vida. Esse sopro de poeira cósmica onde tudo que você faz é construir memórias.

Eu, no caso, vivo de intervalos. Sim, aqueles momentos em que você se recolhe em seu lado de dentro. Está acompanhando? Por exemplo, aquele instante, antes de sair de casa, quando você olha tudo e desce as escadas imaginando “quando será a última vez?”. Ou na metade da sua rica correria, dentro do ônibus, quando você contempla todos aqueles rostos que, muito provavelmente, não vai tornar a ver. Tudo ali, e então o olhar se perde e, no sopro, tudo desaparece.

O que é realidade, afinal? Porque nesses intervalos, eu posso jurar que o tempo pára. Realidade, para mim, é quando eu me torno personagem. Quando a dor é tão grande que eu quero ser outra pessoa, estar em outro lugar. Consegue entender? Quando o medo de perder o momento presente se torna maior do que você e de tudo que você é até então.

Quero dizer, quando será a última vez? A última vez que eu vou descer as escadas girando o molho de chaves no dedo, enquanto o sol surge majestosamente para abençoar meu dia. Ou a última vez que eu vou dançar sozinha no quarto, quando ninguém está olhando e eu percebo quão divertido o tédio pode ser.

E então eu me torno personagem de uma história que recomeça na porta ao lado.

Ela se afasta com as mãos nos bolsos da velha calça jeans. Se afasta de tudo que um dia ela mais desejou ter. Para acordar numa manhã de domingo e dizer “é meu”. E quem pode dizer que será a última vez que ela encontra o amor? E quem pode dizer que não será?

Seja como for.
Just... go.

sexta-feira, abril 20, 2007

Last Looks

O problema é a espera.
.
Malas prontas e o trêm para "qualquer lugar" passará em breve. Ela espera, sentada em um banco antigo de madeira. Poucas malas - ela não tem história para contar - uma mochila bege, contendo todos os seus valiosos detalhes. A roupa fica entre o vestido verde e o jeans azul - indecisa entre ser mulher e ser menina. Os calçados ela não escolhe mais, vai descalça. O sorriso é satisfeito, mas imcompleto. O olhar se perde no horizonte distante, os olhos acostumam-se, aos poucos, com a ausência das lágrimas. O cabelo é o mesmo de sempre, bagunçado, debochado e cacheado - o cabelo não a irrita mais. É outono. As folhas amareladas caem sobre ela, ali, parada à espera. O som é do vento, soprando o passado para longe. Mas o som dos fones é Linger dos Cranberries - porque, talvez, seja uma boa pedida para a despedida. Procura no lado de dentro o pouco que sobrou - fim dos trilhos.
No final da estação ela observa o moço, correndo em sua direção. Ele se ajoelha, exausto, e deita a cabeça em seu colo. Ela o acaricia e, imediatamente, o perdoa pelo atraso. Ele respira devagar enquanto a observa, com aqueles grandes olhos que chovem ternura e diz:
.
- Fique comigo.
- A passagem já está paga. - ela sorri - Este é o lugar que você pertence, onde o seu belo futuro está.
- O meu futuro é incerto, mas está claro para mim que é ao seu lado.
.
Ela não chora. Só o abraça forte. Nesse instante, ele soube que o tempo a levaria para sempre. O trêm apita ao longe e, finalmente, chega. Ela salta para dentro, senta ao lado da janela e o observa, desolado. A espera dela se mistura entre o trêm e o verdadeiro amor. Não admite para ninguém, mas vê seu futuro ali, chorando ternura e mágoa. Contudo, ela sabe que o seu único lar sempre foi seu lado de dentro, e toda a doçura que aquele amor deixara lá. Da janela ela observa o outono e a cena que ela jamais esquecerá. E como uma especialista em últimos olhares, aquele era, incognitamente, do seu único grande amor.
.
***