domingo, fevereiro 08, 2009

Red Code

Talvez seja apenas eu. Mas quando a situação, ou melhor, situações da sua vida encontram-se numa encruzilhada, num daqueles momentos decisivos em que o vilão está para apertar o botão vermelho e implodir o seu pequeno mundo, eu fico esperando meu herói aparecer derrubando uma porta ou quebrando a vidraça da janela, mas ele não vem. Meu herói sou eu mesma. E quando finalmente, após muito bang-bang, aquela ameaça terrível está para ter um fim, eu simplesmente fico estática. Catatônica até. De repente esqueci ou nunca soube qual fio cortar para desativar essa bomba chamada maturidade.
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Porém, se você olhar de longe, à uma distância de dois ou três oceanos, e analisar racionalmente, a solução é bastante simples. Existem apenas dois fios: o verde é o cordão umbilical que me conecta aos meus pais e à minha vida até agora; o prateado alucinante é o que me conecta a um túnel escuro, este fio me arrasta não importa o que eu eu faça ou o quanto eu queira me agarrar ao fio verde, cada vez mais fundo neste túnel eu entro, às cegas, tateando as paredes inconcretas e deslizando pelo chão inconsistente. Enquanto avanço involuntariamente, o caminho já atravessado ilumina-se e é transformado em fio verde por alguma razão que desconheço. Pelo caminho, vezenquando, vozes surgem e me alertam: "Aqui começa o Futuro! Aqui começa o Futuro!"
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Começa aqui, mas é só tomar mais um trecho de escuridão que começa acolá. De início eu pensei estar andando em círculos, talvez este fosse um daqueles labirintos elaborados, ou matrix, ou um disco riscado. Mas enquanto o tempo me arrasta, há muito de mim ficando pra trás. É cada vez mais pesado e difícil carregar tudo que é transformado em fio verde. E eu quero tanto, tanto descobrir pra onde é que esse prateado deslumbrante vai me levar.
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Um dia desses, enquanto eu estava muito ocupada decidindo o que era pergunta e o que era resposta, alguém gritou:
- Você precisa usá-lo!
- Como assim? Usar o que?! - perguntei de volta.
- Usar o prateado pra iluminar! Iluminar o passo seguinte! - a voz respondeu, quase sumindo no final.
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O problema dessas vozes é que, além de não resolverem nada, nunca ficam pra conversar. Fiquei tão irritada que nem me incomodei em pensar no que a voz havia dito. Afinal, que graça tinha essa escuridão toda? É bem mais bonito olhar pra trás onde as pessoas e os momentos não se escondem, onde eu tenho certeza do que vou encontrar e onde, mesmo que repouse meus olhos na escuridão ou no passo seguinte que eu também não vejo, quando voltar a olhar em direção ao fio verde, tudo estará como eu deixei. O ruim é que, quando comecei a reparar nos detalhes, existem coisas que eu gostaria de ter mudado de lugar ou jogado pra dentro da escuridão desse túnel maluco para, quem sabem mais à frente, ter uma idéia melhor do que fazer com elas. Nesse instante ouvi, pela centésima vez: "Aqui começa o Futuro! Aqui começa o Futuro!"
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Não pensei duas vezes. Segurei o fio prateado com firmeza e embora ele teime em continuar me arrastando, descobri que tenho algum controle sobre ele. Quando o tomei em minhas mãos, o brilho cintilante fez com que eu pudesse enxergar novamente meus pés, como há voltas e vozes antes não podia.
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Desde aquele dia, enxergo o passo seguinte e vou para onde eu quero. Vezenquando, ainda olho para trás. Passo os olhos rapidamente pelas coisas boas, para que elas façam todo o peso e esforço continuarem valendo a pena. Demoro o olhar um pouco mais nas oportunidades perdidas, nos momentos que eu deixei passar e nas pessoas que eu deixei pelo caminho. Pois embora eu não possa buscar o que ficou, ainda posso tentar fazer do passo seguinte o meu melhor, e tentar outra vez.

2 comentários:

Unknown disse...

Nunca gostei tanto de ler um texto quanto esse.
Parece que calhou de vê-lo no dia certo, na hora certa.
Se todos tivessem essa noção de que podemos iluminar um pouco o caminho futuro, não teríamos um terço dos problemas de insegurança e menos 100 reais por uma hora num psicólogo.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.