sexta-feira, setembro 07, 2007

Cafés Alados

Parou na esquina da correria, descompassada. No balcão da cafeteria, tirou da bolsa o livro mais novo e "Cinco Minutos, só cinco minutos". Apoiava-se sobre uma das pernas, pendendo de um lado para o outro, cotovelos na borda do mármore, estava exausta. Preferiu sentar-se e esquecer-se do inconveniente relógio sob a malha fria da blusa branca de mangas longas. Na mesma inerte mesa rústica de todos os fatídicos dias, uma cadeira vaga. Sentia-se triste; uma tristeza acolhedora, dessas dos dias nublados, guardada no armário com os casacos semi-novos.
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Observava absorta os faróis dos carros dobrando a esquina, enquanto o escurecer carregava uma garoa fina. Cheiro de chuva, de poeira assentada aos poucos, e o som dos pneus acelerados sobre o asfalto embriagado.
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Estava à espera. De um passado, de um futuro, não há como saber. Esperava ansiosamente um presente dos deuses de tudo que existe, uma reorganização do universo à seu favor. Mas não. Uma hora e cinco minutos desencontrada por si mesma. Sobre a mesa, uma xícara de café pela metade e um croissant rejeitado. Pegou o celular, levou-o até a orelha, mas só ouviu o doloroso som da linha desocupada há meses.
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"Longe daqui, tarde demais. Nunca talvez!", e levantou-se bruscamente. Dirigiu-se ao caixa, insatisfeita, incomodada. Algo faltava pesando no ombro esquerdo, seria um abraço, seria... "A bolsa!". Atravessou a cafeteria correndo, já imaginando o prejuízo, delegacia às 20h da noite, funcionários grosseiros...
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Chegando à mesa, o chão ameaçou ceder. Pernas trêmulas, ardência nos olhos e no nariz seguida de lágrimas silenciosas. Sobre a mesa a bolsa estava, intocada. Uma cadeira estava ocupada pelo presente, ausente em tempos de contemplativas vagas visões, mas agora, justo agora, ali. Olhares segredantes e o céu abre-se em sorrisos tortos.
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- De todas as pessoas no mundo, eu não esperava por você.
- É, cheguei três anos atrasado - ele sorri timidamente.
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Ela aproxima-se, avariada.
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- Senta, pequena, toma um café comigo.

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