domingo, julho 18, 2010

Drowning on Dry Land


Comecei a fazer cachecóis. E tenho essa teoria de que, pessoas que se dedicam subitamente a arte da tecelagem precisam, desesperadamente, de silêncio, de ouvir os próprios pensamentos e argumentar contra eles, de refletir. Estou no meu sexto cachecol em menos de duas semanas e duas viagens – uma à praia; outra às montanhas – e, embora essa nova ocupação tenha me deixado um pouco solitária e menos de bem com a vida, ela me fez reencontrar uma antiga persona de mim mesma, desaparecida há pouco mais de um ano.

Essa faceta é um pouco mais ácida, mais indiferente, menos sorridente e, de alguma maneira, mais eu do eu mesma tenho sido. Você sabe o que eu quero dizer. Aquela sua persona que quer mandar seu chefe à merda, faltar no trabalho pra jogar vídeo-game e comer passatempo recheado com toddynho, ir de pijama pra faculdade, ultrapassar o limite de velocidade, dirigir sem rumo, deitar de barriga pra cima no meio da Avenida Paulista, pegar um ônibus e nunca mais descer dele...

E todas essas coisas que as pessoas fazem quando a sua vida está inacabada, mas já chegou ao fim. Não que eu tenha câncer ou vá me matar, mas... Às vezes, você também não se pergunta se é só isso? Digo, dirigir não é tão “highway to hell” quanto eu queria e ser funcionária pública é tão inútil quanto eu pensava. Sobra a faculdade, que ainda me desafia e me faz criar grandes expectativas em relação ao meu futuro brilhante, mas é isso. Pra eu me tornar uma mulher madura só falta o casamento e a maternidade.

E quanto a ir de mochila pro Peru, dormir na estrada, deitar sobre as linhas do deserto de Nazca, fazer uma tatoo no Miami Ink, tirar uma foto com o Obama, apresentar a entrega do Oscar, saudar a Rainha Vitória, escrever um Best-seller e , ao final, me tornar um vampiro imortal que brilha na luz do sol? E pra onde tudo isso vai?

Comecei a fazer cachecóis. E agora entendo porque os mais vividos acham a juventude tão bonita: porque só agora percebo quão bonito é ter essa ingenuidade e essa crença cega no fato de que você vai mudar o mundo e não vai, de forma nenhuma, acabar como seus pais: casados, profissionalmente realizados, com filhos, previdência privada e uma vontade enorme de ter feito tudo diferente.

Um comentário:

Unknown disse...

Que bom te ver de volta...