Não é uma questão matemática.
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Mesmo que todos, por trás de portas bem trancadas, sejam um pouco mais humanos. Apelativos, fracos, frágeis. Todos necessitados, insatisfeitos, desiludidos. Implorando por um telefonema, uma carta. E, algumas tantas vezes, você realmente precisa correr na direção da contra-mão, só para ver quem se habilita a se afogar em um poço alheio.
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Ao sair porta afora, vestimos nossas máscaras. Todos plásticos, frígidos, desconsolados. Desacompanhados pela nossa própria determinação ou simples desejo, simples "care about". Umas noites mal dormidas, e o único Deus que todos servem é a propaganda de uma vida irreal.
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Passamos toda a nossa vida velando cada detalhe, escrevendo nossos livros, descrevendo as calçadas minuciosamente. Quase tudo sobre nós, nossos mundos paralelos. E a única parte que deixamos de fora é a verdade. Que de tanto ignorar, deixou de existir. Que alívio!
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Mas a verdade, a impiedosa e imponente verdade, é que depois de muitos anos, você usa a máscara por tanto tempo, que esquece de quem costumava ser debaixo dela. E como tudo que um dia teve o seu merecido valor, desaparece, é substituído por algo prático.
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Em breve, muito além dos guardanapos e embalagens, nos tornaremos descartáveis. Substitutos e substituídos. Esse é o futuro, esse é o horizonte. A linha que recua conforme nos aproximamos. E o som dos violinos pincela o fim delicadamente quando descobrimos que temos um horizonte. Há um nome, há um endereço, há para onde rumar. E, tantas vezes, é tarde demais.
- Se for assim, eu nunca te conheci de verdade.
- Sou essa, que está falando com você exatamente agora. Mas é aqui onde eu fico, entre você e o vestígio do que eu poderia ter sido.
- Então o que eu fui para você?
- O meu breve horizonte.
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