Hoje me ocorreu que algumas vezes, aquilo que mais queremos entre todas as coisas é o tudo que nos falta para deixarmos de sermos nós. E errantes, desequilibrados ou, ainda, apenas nós... Largamos, desistimos, abandonamos. Abandonados pelo nosso próprio mistério, pelo nosso direito de amar.
O quê mais queremos... Nossa fraqueza, nosso poder, nosso suplício e, ainda que em doses homeopáticas, nosso deleite. Mas a pergunta paira no ar: Corajosos ou covardes? Apenas um pouco menos infelizes. Nem mesmo a realidade pode ser mais cruel do que a ilusão. Não vale a pena viver sonhando e se esquecer de viver.
É preciso ter coragem, então? Para deixarmos para trás quem mais amamos? É preciso ser altruísta o suficiente para jogar pela janela da vida em movimento a nossa felicidade? Sim, é a resposta.
Mas será preciso ser covarde? Ser egoísta para sermos, ainda que infelizes, conformados com a estabilidade de nossas vidas? Sem altos e baixos, sem provar o irresistível? Sim, é a resposta.
No mesmo hoje me pediram para explicar o porquê das roupas desbotadas, das meias trocadas e da palidez no rosto - dessas que só surgem quando nada encobre o silêncio. "Perdi o insubstituível", disse. Antes que o alguém não soubesse o que dizer em seguida, completei: "Perdi, não. O abandonei consciente da dor que me perseguiria e que, como vê, me faria decadente, descendente do amor que digo sentir", e subi as escadas sem esperar um comentário.
No fim, seremos o tempo desperdiçado em não-ações, não-amores... Seremos consequências. Acreditando, mesmo que secretamente, que aquilo que mais quisemos um dia aparecerá na nossa porta, ao lado do jornal, com um ramalhete de flores. E nesse momento, nessa ínfima possibilidade, conheceremos o gosto da felicidade combinado com todo o tempo perdido.
3 comentários:
Viver de não-amores sempre foi uma realidade. Queria arranjar um remédio para isso, com certeza, mas enquanto não descobrem (ou eu mesmo descubro), seguimos a vida do "wasted time" sempre. Se tivéssemos outras para fazer um parelelo, uma comparação, seria formidável, poder enxergar qual é a melhor para você. Ter a sensação de não ter se arrependido de nada naquela vida. Sim, seria formidável.
Só uma palavra pra vc voltar a ver o simples azul do céu ou a chuva bater em sua vidraça "Desencana" e deixe o vento soprar em sua face>
"Seremos consequências". Forte e verdadeiro. É isso mesmo, seremos consequências de tudo que fizemos ou deixamos de fazer.
À propósito que livro a senhorita está lendo neste momento?
Depois de Harry acho q vou reler os livros de Machado de Assis, porque não lembro de mais nada....
Beijão, Mi :o)
Postar um comentário